Uma proteção de carter desenhada para a Polisport .
Das várias parcerias entre a INNGAGE e a Polisport resultou uma nova proteção de carter que tem vindo a ganhar destaque devido ao seu sistema de fixação / aperto rápido.
A nova protecção Aegis, desenhada para os pilotos de cross e enduro, oferece cobertura total do motor e da estrutura do chassi o que proporciona segurança, facilidade de manuseio e manutenção, e uma fixação robusta.
A Aegis faz parte das últimas novidades no catálogo da Polisport e a sua crescente procura já desencadeou a adaptação para outras marcas / modelos de motos.
Nuno Pires, designer industrial da INNGAGE, dá-nos a sua perspetiva sobre este desenvolvimento.
1.Qual foi o problema/Desafio lançado pela Polisport?
Nuno Pires: A Polisport, quando nos contactou, tinha como objetivo dar o próximo passo na gama dos protetores de carter para contexto de Motocross e Enduro.
Estamos a falar de motas todo-o-terreno que sem protecções ficariam danificadas colocando em causa a performance da moto bem como a segurança do piloto. O desafio consistia no desenvolvimento de uma solução que protegesse não só a parte inferior da moto, como também a zona da biela, de embates e projecções de detritos, oferecendo assim uma área de proteção superior às soluções tradicionais no mercado. Tivemos de ter em conta ainda outros fatores como a estabilidade, a montagem, a robustez, a ventilação e um estilo que se mantivesse coerente entre os diferentes modelos de motos. Estes fatores, depois de garantida a proteção da mota, são altamente relevantes pois acrescentam valor e diferenciam diretamente o produto no mercado.
2. Como abordaram o problema? Alguma estratégia específica que queiras partilhar?
NP: Em média, um motociclista faz a manutenção e limpeza à sua moto pelo menos uma vez por semana e é um processo que implica manobrar ferragens, mudar óleos, desmontar e voltar a montar a proteção. Com isto, sabíamos que dois pontos importantes a ter em conta seriam a área a proteger na mota e o conforto na facilidade de montagem.
Nesta fase era importante compreender bem o público-alvo. A proximidade que a Polisport tem com os seus clientes permitiu-nos adquirir inputs valiosos que rapidamente se converteram em oportunidades. O contexto de uso enduro / cross é muito particular e desafiante.
Quando a nossa equipa visitou os laboratórios da Polisport, lembro-me de reparar no nível de desgaste que uma moto está sujeita neste tipo de provas. Estamos a falar de balões amolgados, patins desgastados devido à fricção, quadros com cortes ou raspões e marteladas profundas que por pouco não furam alguns dos componentes da moto. Isto permitiu-nos compreender a importância de uma proteção o mais justa possível à mota.
Estas “marcas de guerra”, que podemos observar na fotografia facilitaram-nos o trabalho, pois foi mais fácil perceber quais as zonas que precisavam de ser urgentemente protegidas. A estratégia foi precisamente esta, compreender a intensidade que estes contextos de Motocross e Enduro ofereciam, e perceber como a proteção pode melhorar a experiência do piloto tanto na corrida como no pós-corrida.
O que nos move ao longo do processo de design é a procura constante da credibilidade. Ao não envolvermos as pessoas que irão utilizar um produto, que se irão conectar a ele de alguma forma, é criar um produto para um público inexistente.
3. Qual foi o conceito-chave para o desenvolvimento do produto?
NP: Depois de falar com alguns pilotos, tornou-se claro que a necessidade de uma ferramenta externa para montar e desmontar a protecção era um problema. Os pilotos não querem transportar ferramentas desnecessárias, eles querem competir.
No que toca à manutenção o problema que os pilotos salientam resume-se a: “É bom sentir que a mota está protegida, mas por outro lado, sinto que esta quantidade de parafusos, ferramentas e ferragens só me faz perder mais tempo a limpar, a montar e a desmontar”. Logo, o foco principal estava na melhoria significativa da experiência destes utilizadores e para isso foi necessário definir algumas direções. Primeiro, passámos por reduzir o número de ferragens necessárias, passar dos 4/6 parafusos e 2 fixadores (como a maioria das soluções no mercado) para 1 parafuso e 1 fixador, de modo a encurtar o tempo despendido na manutenção da moto. O nosso design sugeriu que este parafuso surgisse na forma de quick-release, uma solução já conhecida no mercado das bicicletas que permite que este seja usado sem recorrer a ferramentas.
Outro aspeto igualmente importante foi o facto da Polisport ter detectado no mercado uma crescente vontade de proteger a biela das motos, permitindo assim oferecer a possibilidade de escolha de uma protecção com ou sem extensão para esse efeito.
A nível de linguagem de design, uma protecção tem de oferecer robustez e resistência e isso levou-nos a trabalhar uma linguagem mais agressiva de ângulos mais fechados e volumosos. Este look and feel de segurança aumenta a confiança dos utilizadores no produto, e consequentemente na marca, e permite que os pilotos possam evoluir a sua performance sem receios.
4. Que tipo de relação estabeleceram com o cliente no decorrer do projeto?
NP: A nossa relação com a Polisport é fantástica, a equipa de desenvolvimento é mesmo muito dedicada e profissional. O desenvolvimento deste projeto implicava o acesso a motas específicas da marca KTM e Husqvarna e a Polisport sempre nos forneceu as ferramentas necessárias.
A boa comunicação entre as duas equipas mostrou-se essencial para manter o diálogo ativo que este projeto exigia. Cada novo input que surgiu foi discutido entre nós e a equipa da Polisport para definir soluções e direções a seguir.
Em especial, nos últimos testes a protótipos, ambas as equipas participaram ativamente, identificando o maior número de melhorias possíveis para garantir que a proteção oferecesse a melhor experiência possível aos pilotos.
5. Como é que a estratégia do produto difere da concorrência?
NP: Estamos a falar da primeira proteção de carter no mercado com um sistema de quick-release. Este sistema permite uma rápida e intuitiva montagem e desmontagem da proteção, o que para os pilotos, pode significar vencer ou perder uma prova.
A extensão à proteção da biela também é um plus visto que conseguimos prevenir interferências no desempenho da mesma, além de evitar resistência em terrenos mais lamacentos.
Em suma, se conseguimos resolver os principais problemas que encontramos nos produtos à venda no mercado, se evitamos que a proteção seja um bloqueio na aplicação e manutenção, e se ainda conseguimos fazer com que o piloto se sinta extra protegido, então missão comprida, temos um produto diferenciador.
6. Quais e como funcionam as fases de todo o processo?
NP: Assim que recebemos o briefing, a primeira fase foi focada no consumidor. Logo nas primeiras impressões percebemos que, para um produto que deveria ser discreto e funcional, este tipo de proteção dava demasiadas preocupações aos motociclistas. Deste modo recolhemos alguns feedbacks, analisámos comportamentos, hábitos e prioridades, e transformámos essas preocupações em oportunidades. Também observámos as soluções que o mercado tem para oferecer. Isso permitiu-nos recolher alguns inputs da concorrência e compreender o que o consumidor tem interpretado como pontos prioritários. Esta análise possibilitou-nos também detectar quais os pontos fortes e fracos da concorrência para conseguirmos criar alguma distinção no produto.
Após definirmos as características que o produto iria ter, abordámos questões mais técnicas como a fixação da proteção ao quadro, a integração do fastener e do quick-release na peça, a extensão até à biela, etc. Estes pontos foram desde muito cedo validados com protótipos simples e básicos, que cumpriram a sua função. Identificámos também as zonas que estão mais expostas e necessitam de uma área de proteção maior. E claro, no final, culminar num desenho que se adequasse ao contexto e cuja geometria estivesse apta a uma industrialização sem sobressaltos. São fases que não seguiram uma sequência linear e acompanharam todo processo, em constante atualização até ao momento do primeiro protótipo SLA para teste em moto. Depois foi testar e testar. Do CAD para a mota e da mota para o CAD. Várias vezes, até garantirmos uma perfeita sintonia entre produto e requisitos.
7. Quais foram as maiores dificuldades neste projeto?
NP: Não diria dificuldades, mas antes desafios, e sem dúvida que vou eleger a modelação 3D. Conseguir conjugar o rigor do ajuste que era exigido à proteção com a digitalização 3D da moto, foi desafiante. Uma vez que, como é natural, existe nas digitalizações 3D desta natureza algumas irregularidades nas superfícies. Estas irregularidades juntamente com a complexidade das superfícies do modelo, trouxeram alguma dificuldade a uma modelação CAD onde a mais pequena alteração implicava complicações formais. Daí em diante foram desenvolvidas outras proteções, desta vez usando um processo mais rápido e com menos obstáculos.
8. As a designer, do you see yourself in this collaborative process between the design team, client team and users?
NP: A procura de credibilidade é aquilo que nos move ao longo do processo de design. Não envolver aqueles que no futuro estarão ligados ao produto e irão usá-lo é fazer um produto para um público que não existe.